quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Lispectoriana (ou Reflexão de fim de tarde)

...De qualquer modo fora uma tarde embandeirada.
E ao chegar a casa depois de seu compromisso deitou-se na cama e lá se esqueceu dos seus afazeres, deliciada com as lembranças da tarde e do belo animal. E tomou para si o desejo daquele amar diferente, encabulado, do amar o novo. Cogitou adquirir um exemplar do bixo e ter de novo, todos os dias, aquela sensação.
Abortou a idéia.
O novo deveria acontecer naturalmente e durar pouco, como um sonho, pois se não ainda sentiria vivo todo o cotidiano com o marido e os filhos, mas só restam os primeiros momentos, os de descoberta. Há amor, mas há amor obrigatório, forçado, a paixão morreu há muito tempo. E renasce com os mais estranhos acontecimentos.
Ela não sabe, mas esse pensamento a desmotivou durante toda a vida a buscar o novo por conta própria. Mas de qualquer modo fora uma tarde embandeirada.


Lispectoriana (ou Reflexão de fim de tarde) 04/08/2010

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