sexta-feira, 16 de julho de 2010

A vida de Jacó

É seu dotor, a vida não ta fácil pra ninguém não sinhô, eu mesmo desde miudinho to tendo que me virar, a quarenta e sete anos atrais foi quando eu nasci, nasci o quinto a nasce, dispois de mim ainda veio mai quatro, e a nossa famia teve é sorte, por que no parto só morreu a Joana, a tercera das fiarada, meu pai morreu cedo, de duença de bêbado, eu mesmo tinha só sete anos quando isso aconteceu, o mai velho, o José tinha quinze, José virou o homi da casa, e minha mãe, coitada, caducou de disgosto de vê meu pai morto, paro de trabaiá, paro até de cuida da Julia, que era bebe de colo ainda, a Joaquina é que fico encarregada de cuida da pequena, no anivressário de dezessete ano do José, ele e o outro mai velho, falaro que ia saí de casa, procurá trabaio no Rio de Janeiro, fazer a vida, e que vinham buscá nois dispois, saiu José e Josias, e nunca mai ouvimo falar deles, dali a famia fico assim, o Janeiro, eu, Joaquina, Jovelino, Jussara e Julia, no ano seguinte da viagem dos dois mai velho, quando eu tinha dez ano, minha mãe morreu, matada, ficou doente, de repente, discobrimo é que ela tava é leprosa, a comunidade toda tinha medo dessa doença, falavam que só pegava lepra quem tinha parte com o Capeta, um dia entro em casa seu Abílio, rezando alto, e com uma espingarda na mão, deu treis tiro na minha mãe, chamou ela de satânica, dispois disapareceu, nunca mais ouvimo falar dele, foi triste, nossa mãe doente, que nunca feis mal a ninguém, fica doente de doença braba, sê chamada de esposa do Demônio, e dispois se assassinada, a famia entro em choque, Janeiro não agüento e se lasco um tiro na testa, foi aí que resolvemo saí daquele lugá maldito, eu era o mai velho com só dez ano, viemo intão pra São Paulo, achando que tudo ia se bão, quebramo a cara, durmimo nas rua, passamo mai fome do que antes, apanhamo duns muleque de rua mai velho, Joaquina com nove ano resolveu se postitruí pra ganhar dinheiro, nois tudo não gostava, mai não tinha otro jeito, as vei ela vinha pra gente com dinheiro, as vei sem, as vei ela apanhava como uma cachorra sem dono, e era bem isso que ela era, ela eu Jovelino Jussara e Julia, passamo cinco ano na rua, eu e os outro treis vendendo bala e pedindo dinheiro em sinaleiro, e Joaquina se postitruino, ela não dexava as outra menina faze isso, então que nois conseguimo se mudar pruma favela, lá a Joaquina engravidou de alguém, queria continuá trabaiando, e resolveu tirar o miudinho da barriga, coitada, feis um abroto que não deu certo, morreu ela e o pequeno, ela era jove, tinha só quatorze ano, Jovelino se meteu no tráfico, começou a vender e usar droga, eu até dei uns tapa nele, mai teve jeito não, mexeu com isso dos doze aos vinte e cinco ano, um dia a policia subiu no morro, e pegou o Jovelino, boto dis costa ajoelhado no chão, e meteu tiro na nuca, é dotor, duma famia de nove fio mais mãe e pai, só ficou treis, eu, Jussara e Julia, mai dispois disso a vida até que deu uma miorada, Jussara caso com um homi bão, lá da favela mesmo, tem quatro fio que são as coisa mai bunita que Deus já fez, Julia começou a istudá, e eu, eu casei também, aos trinta, mai nem deu tempo de te fio e se feliz, a disgraçada da Tereza fugiu, fugiu com um sacolero que ia toda semana pro Paraguai, dispois disso nunca mai tive ânimo pra me apraxoná de novo não, é dotor, aí ta a minha vida, aí ta também meus documentos, e intão dotor, o imprego é meu?


A vida de Jacó 23/07/07

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Vida Barroca

A vida é Barroca, fato! Dois meses de puro marasmo e me vem essa semana de volta na minha terra vermelha e produtiva, feliz por pisar nela e sujar o tênis branco. Junto com uma das pessoas mais especiais que conheci esse ano. Dois meses de marasmo para uma semana de felicidade sem controle, e hoje quando acordo... Descubro que minha cachorra não acordou, nunca senti tanto uma morte quanto como sinto a da minha Lilica. Dois meses de marasmo para uma semana de felicidade sem controle junto com uma tristeza doída. A vida é Barroca, fato!
Cavar o buraco onde ficaria uma das minhas melhores amigas foi quase terapêutico. Me dignei a dar largura altura e profundidade o suficiente para ela. Me dignei a machucar minhas delicadas mãos no cavar. Jogar a terra é que foi desesperador, saber que ela não vai mais pular no meu colo, saber até que não vou mais ficar puto com ela. Jogar a terra é que foi desesperador.
Há coisas mais importantes para se fazer e pensar, mas agora tomo uma pausa, é justo. Não sei se foi melhor ou pior eu estar aqui pra ver ela, pra enterrar ela... Dói mais, mas não confiaria isso aos parentes, sei o quanto são insensíveis nesses casos. Foi melhor e pior... Fato, a vida é barroca!



Vida Barroca 07/07/10