quarta-feira, 13 de junho de 2012

Rubi


Saio à rua de manhã e me deixo levar, a muito que já não sei mais qual meu objetivo, por que estou aqui. Mesmo nessa multidão de pessoas barulhentas e coloridas, embora de almas cinza, ninguém aqui jamais será tão só quanto eu.
Eu estou agora em outro tempo, outro lugar. Longe de mim.
Desde aquele dia, o dia em que tomei de uma vez todo o estoque de remédios da casa, desde o dia em que agonizei horas sozinha em minha cama. Desde esse dia, depois que fechei pela ultima vez meus olhos cansados...
Agora não me existe mais a matéria, nem muitos dos fardos de antes, mas eu pensava que simplesmente acabaria. Agora é para sempre. Posso andar entre as datas, observar as pessoas ou eu mesma. Como quando era menina e estava num gramado, o sol bateu no vidro e então... A janela se desenhou no chão...
A vida era longe, as vezes distante, era a promessa que eu nuca cumpri. Naquela época meus olhos ainda eram diamantes. Mas a vida muda, O tempo passa e as dores se acumulam.
O primeiro relacionamento, a perda da virgindade, o término de um relacionamento conturbado... As responsabilidades da casa, os porres para esquecer das dívidas, as brigas com os amigos... Sua natureza fraca e ostracista não aguenta a ida da melhor amiga, a morte do animal de estimação, a decepção dos seus pais...
Depois de tanto chorar... Eles viraram rubi.
Saio das cores, saio outra de mim. Agora o vidro está no chão... O sol bate na multidão. As coisas mudaram mas eu ainda estou aqui.
A rua corre e não há ninguém como eu. Não visito minha casa, ou o pós morte. Não quero saber o que fizeram de mim.
Apenas observo a movimentação da rua, procurando um olhar mais triste. Nesta manhã, em meio a multidão... Apenas me desenhei nos sons.


Rubi 13/06/2012

terça-feira, 29 de maio de 2012

Bicho Papão

Tinha seis anos, era filho único e morava em uma bonita casa de classe média.
Na sua casa ou em qualquer lugar poderia fazer de tudo para chamar a atenção, ser percebido e quem sabe receber um pouco de carinho. Uma palavra dirigida a ele seria o suficiente para acelerar seu coração.
Acordava e se arrumava para ir à escola, abria as cortinas, escovava os dentes, tomava o café, nenhuma palavra lhe era dirigida. Pai, mãe, empregada... Se ao menos tivesse um cachorro quem sabe receberia uma latida.
Ia à escolinha no carro do pai. Silêncio. Nem a rádio tocava.
Chegando lá se sentava em um canto isolado e via todas as crianças a brincar, a rolar de um lado para o outro, correndo histéricas e gritando. Nunca era convidado.
E ao voltar para casa era mais do mesmo, a empregada limpava a casa toda, os pais chegavam e ela saía. Se deitava sem cansaço.
Certa madrugada ainda não tinha dormido. Pensava e pensava na vida, na sua solidão.
Em meio a escuridão profunda de seu quarto ele se aventurou a tentar contato com alguém tão só quanto ele, se esticou, colocou um braço e a cabeça de baixo da cama e disse:
–Hey Sr., você que vive aí em baixo, acho que você também não tem muitos amigos... Quer conversar um pouco?

Sentiu agarrar seu braço, era um pouco áspero mas não dolorido. Hesitou um instante mas não gritou. Foi puxado.
E nunca mais se ouviu falar dele.




Bicho Papão 29/05/2012

domingo, 29 de abril de 2012

Dói Tanto...

...que já nem me sinto mais.