Duas em meia ela chega ao hospital, seu filho foi atropelado na rua, um gol preto saiu em fuga, por sorte apenas uma perna foi quebrada, nada grave, afirma o médico. Possibilidades são dadas, público ou privado. Ela não tem dinheiro. Possibilidades inexistem.
As horas passam, passam, passam as horas e horas passam. Nenhum médico foi falar com a mulher, ela não sabe onde está o filho. Faz perguntas e a resposta é sempre a mesma “tenha paciência senhora, seu filho está sendo bem tratado”.
Três. Quatro. Cinco. Seis da manhã. Sete horas e o dia está claro, ela não pregou os olhos. Olhos tristes, olheira rocha de tanto chorar. Desespero. Vem um médico, aconselha a mulher a voltar pra casa. “Tenha paciência senhora, seu filho está sendo bem tratado”. Toma um calmante e sai do hospital. Um dois ônibus. Uma. Duas horas.
Em casa chora, grita, telefona e, vencida pelo cansaço, dorme. Acorda, em pouco tempo a tarde se acaba. De novo no hospital e “tenha paciência senhora, seu filho está sendo bem tratado” não dizem onde ele está, seu estado, não dizem nada. É aconselhada a voltar para a casa, não pode haver visitas.
Cinco da manhã ela acorda, se arruma e vai para o hospital, chega perto das oito, pergunta do filho e o médico diz que o corpo se encontra no IML, fala que tudo será explicado.
(...)
O Zumbi que um dia foi uma mãe de família se encaminha ao local. Lá é dito que ele não foi atendido, ficou em uma maca, em um corredor, que o corte infeccionou por falta de cuidados. “Tenha paciência senhora, seu filho está sendo bem tratado”. Ela reconhece o corpo, perna inchada, azul. Possibilidades são dadas, existem muitas formas de se conduzir com o corpo. Ela não tem dinheiro.
Perna 11/04/2011
Tá na hora de atualizar, né?! =P
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